Aventuras e tatuagens de Tavares Tattoo no norte - parte I

Buenas terráqueos! Calma, vai lendo que tem fotos ali embaixo.

Finalmente consegui um tempo para escrever, curto, mas é o que tem.
Semana passada tive o prazer de ministrar um workshop de desenho em Timbó, no norte de Santa Catarina. Para mim, o sul termina em Florianópolis e de lá pra cima é tudo norte, até o polo.

Com essa visão, a viagem foi uma jornada, aliás, uma saga.
Comecemos pelo princípio:
Da cidade onde me hospedo, não há uma linha de ônibus direta até Timbó, o destino mais próximo é Blumenau e para lá só existe um ônibus por dia. O de sábado sai pela manhã e lá fui. Acordei as 6:30h, banho rápido, bagagem pronta, táxi marcado e bora pra rodoviária.

Como o senador Ralado - chamo ele assim porque o nome de batismo dele parece de senador - tem um atelier de bodypiercing e não tatua, levei também a tralha de tatuar. Imagina a bagagem, uma mochila com material de desenho e mais os kits pra rapaziada que se inscreveu, além do player recheado de Raulzito, Zerra, Baleiro, Lobão, Mozart, Bethoven e uma antológica gravação de Carmina Burana completaça. Outra mochila com prancheta, roupas e material de higiene, mais duas maletas com a parafernália de tatuagem. Desde que não precisasse segurar mais nada, conseguia me equilibrar, mas não sobrou mão nem pra espantar mosca.

Depois de um pequeno atraso costumeiro chegou o bonde. Eu desconfio que o horário marcado nos bilhetes não é o de partida, mas a previsão da chegada do ônibus ao terminal. Nem assim as companhias se salvariam.

A bagagem foi alocada com a habitual delicadeza paquidérmica dos motoristas, os usurpadores da tranqüilidade dos viajantes retirados das poltronas alheias e o aspone passou pelo corredor contando os passageiros com o costumeiro gesto que imita o bispo benzendo as massas em dia santo.
Fecha e vai embora!

Obviamente me provi de porcariozitos e refrigerante. Você que reclama da barrinha de cereal dos aviões, devia pegar um ônibus. Quando muito tem água, suspeita e lacrada. 
Bem ou mal, sacolejando pela BR-101, lá fomos nós.

Paramos em poucos lugares programados e em diversos outros para descida de passageiros, que na busca por encurtar um pouco o trajeto, pediam para desembarcar em trevos e postos de combustíveis. Tudo normal e depois de seis horas e trinta minutos de viagem, aportamos na rodoviária de Blumenau.

Desço do bólido, consigo resgatar meus pertences alojados no bagageiro e me dirijo confiante ao guinche da companhia que faz a linha entre onde eu estava e onde deveria chegar. Logo descubro que a busca antecipada pela grade de horários foi vã. O próximo bonde só em três horas e meia. Dam.

Como é comum em situações de desamparo, olho para os lados. Vislumbro uma reluzente fileira de carros limpíssimos rodeada por cidadãos barrigudos com camisas apertadas enroladas até o peito, todos, invariavelmente, fazendo malabarismo com palitos de dente para mantê-los presos aos beiços enquanto chupavam o resto do almoço preso nas cavidades das cáries. Rá! Taxistas.
Monto a carga no lombo enquanto vou calculando mentalmente quanto poderia custar uma corrida para o mesmo lugar que a passagem de ônibus custava cinco pratas. Usei como base o cobrado aqui e imaginei que algo entre vinte e vinte cinco reais seria suficiente. Malaventura. Por baixo uns cem reais, mas eu não faço, vê com ele ali. Ele Ali me disse que fazia por cem. Poutz, fudeu.

Vou acionar o senador Ralado e ver se ele conhece alguma alternativa. Ele deu a dica e consegui uma viagem com espera de pouco mais de hora e meia. Então depois de quase uma hora me equilibrando com a bagagem dentro do bonde, tornei-me um saltador de trevos. Felizmente o progenitor que deu ao Ralado sua nomenclatura congressista me recolheu na entrada da cidade e me levou até o Perfurando Barreiras. Finalmente cheguei ao estúdio do grande Ralado. Primeira etapa cumprida. Cheio de sede, poeira e articulações doloridas, me senti tranqüilo. 

Logo após cumprimentos e apresentações, quando conheci a primeira dama do Perfurando Barreiras, Letícia, e o Gibson, irmão e aprendiz do Ralado, tratei de dissipar a sede e seguimos para o hotel. Cara, precisava muito de um banho e de uma cama.

Havia um quarto reservado para minha pessoa. Logo que descarreguei a tralharada do lombo notei que o banheiro era coletivo. Beleza, já morei em colégio interno e não tenho muita frescura, ia ser tranqüilo. Mas foi só abrir a porta para perceber que com o tempo ficamos mais chatos. Uma lufada de gás tóxico invadiu meus sentidos. Veja bem que depois de todo o trajeto eu não me encontrava num estado muito apresentável. Era o único dia de sol em toda minha estadia na cidade e fazia um bom tempo que estava suado. 


Mas o banho foi adiado momentaneamente. Antes me dirigi a recepção e solicitei um upgrade. Sabe aquela olhada para os lados em desamparo? Pois é, quando fui atingido pelo gás mostarda percebi uma porta aberta e através dela notei um quarto com um cômodo a mais que o destinado a minha hospedagem. Só podia ser um banheiro, tinha que ser um banheiro, era um banheiro.

Hotel Colonial em Timbó - instalações simples e confortáveis. Atendimento ótimo e preço justo.

Mudei de lado. Fui transferido para o outro lado do corredor. O lado burguês, o lado dos banheiros. Aí sim. Banho e soneca. Nesse meio tempo já havia me comunicado com casa e já sentia os primeiros sintomas da saudade, mas a fome venceu a nostalgia e o cansaço. 


Era hora de buscar alimento. Fui ao estúdio o falei com o Gibson que me indicou uma lanchonete bacana ali perto. Fast food caseiro, drinks e de volta ao berço. Antes do sono dos justos, a falta da turma lá de casa. Telefonema, conversa, tv por luminária e dormir.


Domingo é dia de trabalhar. Com duas tatuagens agendadas saí cedo para um domingo e fui dar início a instalação volante do Crazy Hat Tattoo dentro do Perfurando Barreiras. Tudo nos conformes e saiu o primeiro trampo em terras nortistas:

Essa é a tatuagem que fiz na Daiane Cunha, gente finíssima. 

A Daiane ficou contente com a tatuagem. Acho que fez sucesso.

Gostei de como ficou a tattoo, curti tatuar, já estava me ambientando… o barulhinho mágico das máquinas era o mesmo, tava em casa.


Logo mais continuo a narração das Aventuras e tatuagens de Tavares Tattoo no norte.
Abraço.

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